A Bolsa de Valores de São Paulo (B3) está começando a refletir, de forma mais evidente, o aumento da desconfiança do mercado no governo, e também a piora no cenário externo, com nova onda de contágios na Europa e as fortes incertezas em relação às eleições nos Estados Unidos, de acordo com analistas. Apesar de quase empatar no fechamento de ontem, o Índice Bovespa (IBovespa), principal indicador da B3, encerrou a semana a 96.999 pontos, com recuo de 0,01%, vem registrando forte oscilação nos últimos dias.
A diminuição da queda ocorreu depois da notícia de que democratas e republicanos estavam chegando a um acordo para o novo pacote de estímulo fiscal, o que fez as Bolsas norte-americanas subirem em ritmo mais forte. Em Nova York, o Índice Dow Jones fechou com alta de 1,34% e o Nasdaq avançou 2,24%.
Na semana, entretanto, a B3 acumula queda de 1,32% e, no ano, o Índice Bovespa registrou tombo de 16,12%, mostrando que a euforia de que o IBovespa poderia encerrar o ano acima de 115 mil pontos está se dissipando. “A ficha está caindo, mas ainda não necessariamente ao que está acontecendo no Brasil, e, sim, lá fora. Havia uma alta que não era razoável no setor de tecnologia, com empresas supervalorizadas e que, agora, estão com os seus valores sendo corrigidos. Não faz sentido uma única empresa ter valor de mercado de um país como o Brasil, ou de uma outra pequena montadora valer mais do que todas as fabricantes juntas somadas”, avaliou o economista Alexandre Espírito Santo, economista da Órama. Segundo ele, o cenário externo preocupa, especialmente, porque há um forte risco de judicialização das eleições presidenciais, por conta dos votos pelo correio –– e o presidente Donald Trump já sinalizou que vai questionar o resultado. Na avaliação dele, a B3 estava sobrevalorizada e o patamar mais razoável é o atual, devendo chegar a, no máximo, a 98 mil pontos até o fim do ano.
“A semana começou de forma bem negativa, com as investigações no setor financeiro, um risco fora do radar. Há mais riscos no radar e isso piora a busca por ativos nos mercados emergentes”, destacou Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.
Ladeira acima
No mercado de câmbio, o real continua em queda livre e, ao lado do rublo russo e do rand sul-africano, lidera as desvalorizações das moedas emergentes, em um sinal claro de que os bons ventos pararam de soprar com o cenário externo cada vez mais preocupante com a pandemia de covid-19 não dando trégua. O dólar segue valorizado frente ao real, refletindo maior desconfiança do mercado nesta semana, em relação às promessas do governo em respeitar o teto de gastos, segundo os analistas. Ontem, subiu 0,81%, cotado a R$ 5,555 para a venda. Na semana, a divisa norte-americana acumulou alta de pouco mais de 3,3%
No fim do dia, o Banco Central, que vinha evitando atuar no mercado, sinalizou uma intervenção diante da volatilidade crescente. Em nota, informou que fará, dia 30, a rolagem de 130.899 contratos de swap cambial com vencimento em 3 de novembro de 2020, no valor de US$ 6,5 bilhões.
Desemprego: modesto recuo em setembro
Após bater 14,3% no fim de agosto, a taxa de desemprego marcou 13,7% no início de mês de setembro. O recuo, contudo, não se refletiu no aumento da população ocupada. Por isso, segundo os especialistas, não representa um movimento permanente e pode indicar um aumento do desalento no Brasil.
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Covid (Pnad Covid) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil começou, este mês, com 13 milhões de desempregados. São 700 mil pessoas a menos do que no fim de agosto. Só que, neste período, os ocupados cresceram em apenas 100 mil pessoas, variando de 82,2 milhões para 82,3 milhões.
Sobram, portanto, 600 mil trabalhadores que podem ter desistido de procurar emprego, mesmo sem ter conseguido uma nova ocupação. Por isso, a população fora da força de trabalho subiu de 74,4 milhões para 75 milhões, mas 27,3 milhões dessas pessoas avisam que gostariam de trabalhar e 17,1 milhões disseram que só não procuraram emprego por conta da pandemia ou porque não encontraram uma ocupação na localidade em que moram.
Para especialistas, essa oscilação da taxa de desemprego vai persistir até o fim do auxílio emergencial, já que o benefício ainda tem garantido o básico para as famílias de baixa renda. Porém, a redução do valor tem pressionado a taxa de informalidade. É que, diante da queda no auxílio de R$ 600 para R$ 300, e do retorno gradual da circulação urbana, muitos trabalhadores sem carteira estão voltando aos postos que ocupavam antes da pandemia. Com isso, a taxa de informalidade avançou de 34% para 34,6%, o maior nível desde meados de junho, no início deste mês, com o número de trabalhadores informais subindo de 27,9 milhões para 28,4 milhões.
Fonte: Correio Braziliense