O real está “bem barato” a julgar por métricas como paridade de compra, mas o risco fiscal desponta como um dos que pode manter a moeda sob pressão mesmo passada a crise do Covid-19, disse Luiz Ribeiro, gerente do fundo de ações para a América Latina da DWS –gestora de fundos do Deutsche Bank com 767 bilhões de euros (cerca de 4,5 trilhões de reais).
Para o gestor, além dos efeitos da pandemia do coronavírus, que tem afetado o bloco de moedas emergentes de forma geral, a divisa brasileira tem sofrido adicionalmente com a queda nos diferenciais entre os juros locais e internacionais, o que prejudica a relação risco/retorno de se investidor na renda fixa doméstica.
E, mesmo com a moeda em patamares mais baratos, ele chamou atenção para o risco potencial à taxa de câmbio vindo da gestão das contas públicas.
O dólar superou 5,48 reais nesta quinta-feira(23/04), renovando recordes históricos pelo segundo dia consecutivo. Em 2020, a moeda salta 36%. Isso equivale a uma depreciação de 26,5% para o real, que lidera as perdas globais no ano.
De acordo com dados do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês), mesmo em termos reais (descontando a inflação) a taxa de câmbio do Brasil encabeça as perdas numa lista de 60 países.
No acumulado dos três primeiros meses de 2020 (dado mais recente), a taxa efetiva real de câmbio do Brasil caiu 14,19%, atrás das taxas de câmbio de Rússia (-13,38%), México (-13,27%), África do Sul (-10,39%), Noruega (-10,01%) e Colômbia (-8,72%). Com exceção da África do Sul, esses países são correlacionados ao petróleo, que já em março viu os preços colapsarem devido às incertezas decorrentes da pandemia.
Mas existe um fio de esperança de algum alívio para o real. Segundo Ribeiro, se o “estrago” do Covid-19 não for “tão grande” quanto estimado pelo pior cenário, então é possível que em dois ou três trimestres o mundo comece um ciclo econômico “quase sincronizado”.