Uma aliança financeira está se formando entre China e Rússia para diminuir a dependência do dólar, moeda em queda livre como reserva nos dois países.
Pela primeira vez na história, o dólar caiu para menos de 50% do valor total das negociações entre a Rússia e a China no primeiro trimestre do ano. A porcentagem de uso do dólar já vem em queda desde 2015;
“A colaboração entre a Rússia e a China na esfera financeira nos diz que eles finalmente estão encontrando os parâmetros para uma nova aliança entre si. Muitos esperavam que isso fosse uma aliança militar ou comercial, mas agora a aliança está se movendo mais na direção bancária e financeira, e é isso que pode garantir a independência dos dois países”, disse Alexey Maslov, diretor do Instituto de Estudos do Oriente na Academia Russa de Ciências.
Um novo SWIFT
A queda brutal no uso do dólar por estes dois países não para por aí. Para facilitar as transações entre aliados, Rússia e China preparam um novo sistema de liquidação global para competir com a SWIFT.
A Swift é um sistema de mensagem interbancário que visa facilitar a comunicação entre instituições de diferentes países, ajudando na transferência de recursos. Entretanto, além do sistema ser ultrapassado, ele está sob controle técnico dos Estados Unidos (apesar da sede em Bruxelas).
Com receios de sanções ainda maiores dos EUA, China e Rússia trabalham fortemente em um SWIFT para chamar de seu. Vale lembrar que as tensões entre Rússia e EUA continuam altas, principalmente após a vitória dos aliados russos na Síria e a invasão da Crimeia.
Com a China, Trump está jogando ainda mais pesado. Nesta sexta-feira (07/08), o presidente Donald Trump baniu o app chinês Tik Tok, fazendo a Tencent (maior conglomerado asiático) perder US$38 bilhões em valor de mercado.
“Apenas muito recentemente o estado chinês e as principais entidades econômicas começaram a sentir que poderiam acabar em uma situação semelhante à dos nossos colegas russos: sendo o alvo das sanções e potencialmente sendo excluídos do sistema SWIFT”, disse Zhang Xin, pesquisador do Centro de Estudos da Rússia da Universidade Normal da China Oriental, em Xangai.
A ordem é “dump the dollar”
Enquanto o dólar perde espaço, o euro ganha força. A moeda europeia chegou a significar 30% das transações sino-russas em novo recorde.
Além da diminuição de espaço nas transações, o dólar está perdendo cada vez mais seu status de reserva mundial. Só os russos já se livraram de metade dos seus dólares em 2019, tirando US$110 bilhões da balança de ativos.
Apesar das tentativas russas, destronar o dólar não será nada fácil. A moeda norte-americana é aceita mundialmente, contando com o poderio bélico e econômico da maior potência da história da humanidade.
“As sanções são um instrumento muito poderoso para os Estados Unidos, mas, como qualquer ferramenta, você corre o risco de que outras pessoas comecem a procurar alternativas se as exagerar. Eu acho que seria tolice supor que está escrito em pedra que o dólar será incontestado para sempre como a moeda internacional número um”, disse Jeffery Frankel, economista na Universidade de Harvard.