Geral Moedas

Dólar tem maior alta mensal desde março; fiscal segue no foco do mercado

O dólar fechou em alta de mais de 1% ante o real na última sessão de agosto, mês de intensa pressão no câmbio derivada de incertezas políticas e fiscais que mantiveram o real como a moeda relevante mais volátil do mundo.

O dólar à vista subiu 1,20% nesta segunda-feira, a 5,4807 reais, depois de cair 2,93% na sexta-feira, maior desvalorização diária desde o começo de junho.

Em agosto, o dólar subiu 5,02% –maior alta mensal desde os 15,92% de março passado. Em 2020, a moeda salta 36,58%.

Na B3, o dólar futuro de maior liquidez saltava 1,87% nesta segunda, a 5,4920 reais, às 17h16.

A alta do dólar neste começo de semana esteve associada a um dia menos auspicioso no exterior, em que moedas emergentes e bolsas de valores se desvalorizaram, enquanto ativos seguros, como os Treasuries, ganharam terreno, conforme investidores deram uma pausa à espera de mais notícias que justifiquem o rali recente dos mercados.

No Brasil, o movimento do dólar permaneceu ao longo do mês relacionado à incerteza sobre o rumo das contas públicas –e assim deve continuar. Agosto foi marcado por escala de ruídos entre a equipe econômica, liderada pelo ministro Paulo Guedes, e alas do governo em defesa de mais gastos e flexibilização de regras fiscais.

Dados divulgados pelo Banco Central na manhã desta segunda-feira mostraram que a dívida bruta brasileira, considerada a principal medida da saúde fiscal do país, subiu 10,7 pontos percentuais no ano até julho, ao patamar recorde de 86,5% do Produto Interno Bruto (PIB).

Também nesta segunda, a equipe econômica aumentou o rombo primário previsto para o governo central a 233,6 bilhões de reais em seu projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) do ano que vem encaminhado ao Congresso.

A tensão entre Guedes e alguns setores do governo também afetou a relação do ministro com o presidente Jair Bolsonaro, com ambos posteriormente tratando de enfraquecer rumores de saída do comandante da pasta da Economia.

Pressões por mais gastos e dúvidas sobre a retomada da agenda de reformas, contudo, seguem na pauta.

Mas, com o real caindo mais de 26% em 2020 e constantemente liderando as perdas globais seja na sessão, na semana ou no mês, mais analistas têm avaliado que a moeda brasileira estaria excessivamente depreciada.

Para o Nordea Bank, o real é uma das divisas emergentes que poderia se beneficiar de um “catch-up” (fechamento de gap) entre o câmbio emergente e de países desenvolvidos.

“Preferimos real, rand sul-africano e rupia indiana para o caso de recuperação das moedas emergentes”, disseram analistas do banco em nota.

Do lado interno, alguns analistas veem na decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) de permitir transferência de 325 bilhões de reais do lucro do Banco Central com operações cambiais ao Tesouro Nacional como uma indicação implícita de teto para o dólar.

“Se o dólar for para, digamos, 5,510 (reais), o BCB tem todo incentivo para vender dólar”, disse um gestor em São Paulo.

Outros calcularam que o piso para o dólar para que a operação do BC com o Tesouro não descapitalize a autoridade monetária estaria perto de 4,9 reais

“Vender o dólar /real dentro de seus níveis de preço atuais e usar um stop-loss próximo ao nível de 5,5100 reais pode ser um trade interessante”, disseram analistas do DailyForex.

“Depois de um mês agitado e de ver uma tendência de alta dominar, o dólar/real parece pronto para demonstrar um impulso de baixa mais forte. Se o nível de suporte de 5,3400 reais vacilar e as vendas crescerem, o nível de 5,2200 reais pode ser alvo de especuladores”, completaram.

Fonte: Investing.com